terça-feira, 14 de setembro de 2010

cidades I

há certo tempo se imagina se o apartamento 273 está abandonado ou habitado.

seus habitantes nunca são vistos,
mas com atenção se nota a pilha de louça que aumenta,
as cartas ao pé da porta - vez rasgadas, vez recolhidas sobre o aparador.

um ou outro objeto que muda de lugar,
um ou outro some,
um ou outro aparece.

na última vez, estava mais organizado.
e um novo quadro na parede:

cidade delgada

deixo a sala aos seus fantasmas, fechando a porta atrás de mim.

lembrei-me de Otávia¹.
a leveza das formas pode ser uma linha delicadamente desenhada,
pode ser a fragilidade de um espírito à beira do colapso.

Otávia precisa que seus habitantes sejam seguros e felizes - leves, pois a rede que a sustenta "não resistirá mais que isso".

São Paulo deve repousar sobre placas de chumbo.

- - -

1. CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. 1972

4 comentários:

  1. Q poético Arts, gostei!
    vc vai ilustrar mais Calvino?
    faça isso! huuh
    bjo

    ResponderExcluir
  2. Calvino e otras cositas más.
    Puxa uma cadeira e senta aí: ninguém liga, huhu...

    ResponderExcluir
  3. vc consegue relacionar SP a um outro modelo de Calvino?
    realmente interessante e instigante.
    preciso terminar de ler esse livro para poder entender melhor!

    ResponderExcluir
  4. não sei se "conseguir" é a palavra mais segura de usar, hehe, mas acho que sim...

    ResponderExcluir

vozes no corredor...